terça-feira, 20 de outubro de 2009

VOAR NA SERRA DA ARRABIDA ( O Setubalense )

O SETUBALENSE
Segunda-feira 19 dDe Outubro De 2009

Baptismo de voo na Arrábida

VOAR DE PARAPENTE NA SERRA NUMA MISTURA DE ADRENALINA E TRANQUILIDADE

«O Setubalense» aceitou o desafio da Associação de Voo Livre de Sintra e deslocou-se até à Arrábida para experimentar um voo de parapente. Acompanhados por dois veteranos da modalidade, fizemos um breve voo de baptismo pela serra que nos deslumbrou.
Em diálogo com os pilotos ficámos também a par dos possíveis riscos da modalidade e das condições ideais para a prática, entre outros temas.
Vera Gomes

veracris@portugalmail.pt




                    ARRÁBIDA – O voo livre permite uma vista privilegiada para a serra


Final da manhã. Céu limpo. Temperaturas de Verão. Condições espectaculares para um passeio na Serra da Arrábida e até para uma ida à praia. No entanto, as condições atmosféricas não eram as mais favoráveis à prática do parapente, devido à escassez de vento.Vista como um excelente local de voo livre, a Serra da Arrábida é considerada pelos amantes do parapente como o melhor sitio para a modalidade, por causa da maravilhosa paisagem. Com um desnível de 300 metros, a descolagem deste nosso voo de baptismo, num parapente especial (bilugar), aconteceu abaixo dum miradouro, localizado por cima da praia do Portinho da Arrábida. É preciso dar uma corrida, no sentido descendente, contra a direcção do vento, para dar impulso. Ao fim de algumas passadas a sentir o peso do material nas costas, os pés despregam-se, finalmente, do chão e os nossos corpos são elevados. Passado o primeiro impacto, em que o chão nos foge dos pés, já é possível, ao passageiro, descansar e desfrutar do voo, muito bem sentado e seguro. O próximo passo é sacar da máquina fotográfica e começar a filmar a experiência. O silêncio só é interrompido pelos sinais sonoros do GPS que davam indicações ao piloto e por um breve diálogo com este, que se queria certificar de que estava tudo bem.
Foram cerca de oito minutos, desde a descolagem até à aterragem, na praia do Portinho, que passaram, literalmente, a voar. Normalmente os voos de baptismo têm uma duração entre 15 a 30 minutos, mas este foi mais curto, devido às tais condições atmosféricas pouco favoráveis.
“Os princípios de aerodinâmica do parapente são iguais aos de um avião, mas, como o parapente não tem motor, o piloto tem que depender das condições atmosféricas para voar”, explica o parapentista José Carlos de Sousa, da Associação de Voo Livre de Sintra. Um parapente pode levantar voo, voar e aterrar com ventos de zero a 25 Km/hora com segurança, mas, também pode levantar voo através da térmica. Este tipo de voo utiliza as “bolhas de ar quente, geradas pelo contacto do sol com o solo, que sobem, por serem menos densas que o ar que as rodeia”, salienta o piloto. Este mecanismo simples permite ganhar, frequentemente, milhares de metros de altitude! Já a chegar ao areal do Portinho, é hora de guardar a máquina fotográfica e aguardar pela ordem… ”Corre, corre, corre!”, gritou José Carlos. E voltamos a sentir terra firme por baixo dos nossos pés.
Voar de parapente é numa experiência única, em que nos sentimos quase a flutuar sobre o chão, num misto de adrenalina e tranquilidade. “Quem começa a praticar não consegue parar!”, revela o experiente
praticante. Mas também “é uma modalidade para a qual é preciso paciência e espírito de sacrifício”, defende Eduardo Lagoa, seleccionador nacional da modalidade, “porque às vezes parece que estão boas condições para voar, subimos a serra, equipamo-nos, abrimos a asa e depois acabamos por não conseguir descolar”. “O que eu mais gosto é da sensação de liberdade. Descolar daqui mas não saber onde vou aterrar”,
manifesta o instrutor, recordista nacional neste desporto de aventura.

RISCOS.
Eduardo Lagoa explica que “por ser considerado um desporto radical, as pessoas associam que é perigoso, mas se os riscos forem conhecidos e estiverem correctamente identificados, não o é”. Os especialistas garantem que se se praticar um tipo de voo cauteloso, em condições atmosféricas adequadas e com equipamento bem conservado, a probabilidade de existirem acidentes é muito reduzida. José Carlos de Sousa sublinha que de mota já teve três acidentes, mas de parapente nunca teve nenhum. “Os acidentes que há são normalmente por falta de atenção”, revela. O piloto alerta também para o facto de “haver muita gente a fazer voos de baptismo sem ter licença de voo da aeronave, e muito menos seguro”, o que pode ser muito perigoso.
                                                           Voo livre na serra

                      PRATICANTES QUEIXAM-SE DE OBSTÁCULOS À PRÁTICA
O voo de parapente pode ser praticado em qualquer altura do ano,
no entanto, de acordo com Eduardo Lagoa, vice-presidente da Associação de Voo Livre de Sintra (AVLS), a época mais favorável é entre os meses de Setembro e Maio. Durante o Verão, nomeadamente na época balnear, as aterragens nas praias da Arrábida estão proibidas. No entanto, José Carlos de Sousa, da Associação de Voo Livre de Sintra, indica que existem espaços no areal do Portinho da Arrábida que os banhistas não ocupam, porque têm arbustos e árvores, e que poderiam ser aproveitados para as aterragens, sem qualquer incómodo para os que usufruem da praia. “É um espaço que está sempre vazio e que não tem qualquer utilidade”, explica. Queixam-se que o Parque Natural da Arrábida (PNA) “não facilita” a prática. Eduardo Lagoa explica que a Federação Portuguesa de Voo Livre tem licença para voar, mas “se vier para aqui uma associação, que faz parte da federação, fazer um voo organizado, os funcionários do parque não os deixam voar, porque dizem que precisam de uma outra licença”. O seleccionador nacional da modalidade expõe a parcialidade do PNA. “Põem tantos entraves à modalidade, e a outras, como a escalada e as caminhadas, etc., mas a caça já é permitida”, resume. “Se a política do Parque fosse de regular e não proibir, isso podia trazer mais turismo e dinamizar a região!”, salientou o responsável.
V.G.


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